Para falar sobre maternidade adotiva, antes de mais nada, é preciso lembrar e reforçar: adoção é via de parentalidade, legal e irrevogável. Ao optar pela maternidade via adoção, a mãe precisa passar por algumas etapas ao longo do processo, entre jurídico e questões pessoais. Todo esse processo pode ser encarado como algo difícil e demorado, visto a burocracia que envolve o "tornar-se mãe" via adoção.
Oferecer uma escuta atenta para esta mãe diz respeito a olhar sua história como um todo, desde o planejamento da via de parentalidade, compreender quais os motivos e desejos da adoção, bem como os lutos que precisam ser elaborados. Sim, existem lutos neste processo, lutos que envolvem a infertilidade e perdas gestacionais muitas vezes.
O processo de adoção consiste em: habilitação para adoção, fila de espera no Sistema Nacional de Adoção (SNA), aproximação, convivência e adoção. Não conseguimos precisar o tempo que tudo isso levará, afinal existe a burocracia necessária para que mãe e filho estejam amparados em todo o processo, mas para que vocês possam ter uma ideia de tempo é possível que todo esse processo leve em média 5 anos, 8 anos. Enfim, o tempo de espera pode ser fator de risco emocional, quando não acompanhado devidamente, compreendendo quais as angústias existentes e permitindo que a mãe possa elaborar tudo que está vivenciando.
Falando em risco emocional, o período de convivência e pós-adoção merecem sua atenção, pois estamos falando da adaptação diante do tornar-se mãe. Mães que adotam também vivenciam o puerpério e também podem desenvolver transtornos já conhecidos pela perinatalidade, como ansiedade e depressão pós-adoção. Questionamentos sobre ser uma boa mãe, culpas maternas, falta de apoio da família extensa e tantos outros pensamentos podem surgir no período de convivência, que é quando mãe e filho estão morando sob o mesmo teto. No entanto, muitas se calam, por medo, por não saber, por insegurança de como o judiciário poderá receber esta informação. Aqui novamente surgem medos do tipo: "podem retirar meu filho de mim?"
As equipes técnicas precisam se preparar para compreender as possíveis alterações emocionais que envolvem este período, para atender da melhor forma a família que adota, orientando sobre o acompanhamento psicológico, sempre que necessário. Aqui vale entender que a adoção não é um sintoma para demanda de acompanhamento psicoterapêutico, mas a história de cada indivíduo diante de tamanha transformação pela parentalidade merece sim um acompanhamento de qualidade.
Compreender acerca do campo perinatal também se faz importante diante da adoção, afinal, todos possuem uma história anterior à adoção, e é nestes detalhes que a condução de um bom processo psicoterapêutico para adoção acontece.
Fernanda de Camargo (Psicóloga)
CRP 08/15834
@psicofercamargo
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