Alerta de tema sensível.
Este é um tema de fato sensível e, geralmente justificado pelo desconforto que causa em nós, vai parar no limbo dos silêncios da maternidade. E assim já sabemos que mais vidas maternas continuarão a se encerrar a mesma maneira. Então nós nos reunimos e nos falamos, para que tenhamos (todas) mais vida, mais da vida.
O suicídio materno é apontado por estudos como uma das maiores causas de óbito entre mulheres nos 12 meses que se seguem após o parto em diversos países de alta renda, chegando a 20% dos óbitos no pós-parto.
Logo, é impossível fechar os olhos para o aumento da manifestação de adoecimentos mentais no ciclo gravídico puerperal. Sendo ainda de conhecimento público que o adoecimento está intimamente relacionado, e precede, as tentativas de autoextermínio. Não nos assustaria saber então que os episódios depressivos podem ser identificados em 15 a 20% das gestantes analisadas. E que dentre os casos notificados de suicídio completo, metade deles está associado à depressão.
Portanto, evidencia-se a urgente necessidade de continuarmos combatendo a visão romantizada da gestação e da maternidade, que condiciona erroneamente o estereótipo deste ser o melhor período da vida da mulher, com plenitude e saúde.
Opondo-se novamente à realidade, onde mais da metade delas experimenta sintomas como ansiedade, irritabilidade e alterações do humor.
Sintomas estes que ficam também à margem do que não é dito espontaneamente pela maioria, pois existe o medo do julgamento e a esperança que tudo apenas melhore. E assim os sintomas evoluem gradual e negativamente.
Porém, precisamos ainda assumir a responsabilidade, enquanto profissionais de saúde, pois o que não é ativamente investigado, não será diagnosticado ou tratado apropriadamente.
Fica portanto recomendado que em nossa prática, perguntemos em todas as oportunidades se existem receios, medos, pensamentos negativos e de desistência da vida. Quando afirmativo precisamos também entender sobre a gravidade, para dar o devido suporte e direcionamento.
Pois, para conseguirmos prevenir o suicídio precisamos estar atentos para identificar o risco e agir a partir daí.
O acompanhamento em psicoterapia individual e/ou em grupo é sempre indicado e o ideal é contar com uma equipe multiprofissional alinhada e ativa, com a presença de um médico psiquiatra com conhecimento e prática em perinatalidade. O uso de medicações frequentemente nesses casos é necessário e existem opções seguras para mãe e o bebê, seja ainda durante a gestação ou no aleitamento, sem necessidade de interrupção.
Lisa Pena Bueno de Moura Médica Psiquiatra (CRM 21499 l RQE 14681) Atuação em saúde mental da mulher e psiquiatria perinatal.
Fonte: Organização Mundial de Saúde (OMS); Saúde mental da mulher: da gestação à menopausa. Igor Emanuel Vasconcelos e Martins Gomes e colaboradores. Curitiba: CRV, 2022.
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